Comecei a vida me expressando
normalmente, quando me cabia dentro do contexto. Depois comecei a me expressar
em excesso, então notei o que isso causava. Enfim, passei a me expressar cada
vez menos. Mas tudo isso pareceu tão rápido que sequer me lembro da última vez
em que fui tão expressiva em anos. Recordo-me mais de sentimentos recentes.
Não deveria ser tão complicado
falar sobre sentimentos, mas pra mim isso é uma tortura, independente do que
estou sentindo e da intensidade. Minha garganta se fecha, minhas mãos tremem,
surge a vontade de um choro copioso, meu estômago revira e meu cérebro se
confunde com as palavras. Eu quero falar e até tento, mas algo dentro de mim -
algo que está aqui dentro desde quase sempre - não me deixa falar.
Mas aí, eu encontrei você. Não!
Você me encontrou. Olhou nos meus olhos, me aconchegou em seus braços, me viu
no exato momento em que eu não deixava que ninguém me visse. E naquele momento,
um sentimento de vergonha tomou conta de mim. Eu não sabia onde me esconder, a
não ser dentro de mim mesma. Porém, você não permitiu que isso acontecesse. Você
adentrou meus pensamentos e medos, já sabe quase tudo de mim. Só não tem ideia
do quanto isso me assusta.
Eu sei que meus pensamentos
funcionam diferente e você compreende isso ao invés de me repreender. Por isso,
quando estou triste e você está por perto, ou eu me viro para o lado oposto,
pra que você não precise ver aquela cena deprimente outra vez, ou eu
simplesmente me aninho no teu abraço e fecho os olhos. Porque isso parece
melhor do que fingir ou morrer.
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.”
- Fernando Pessoa
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.”
- Fernando Pessoa
Nenhum comentário:
Postar um comentário