domingo, 4 de janeiro de 2015

A Alice Que Há Em Mim

"I can't explain myself, I'm afraid, Sir, because I'm not myself you see."

       Sem encantos e nem coelhos. O que há em comum são os delírios, são pensamentos e supostas alucinações. As flores não falam e - infelizmente - os gatos também não. Porém, as sombras tomam conta do espaço. Que de espaçoso não tem nada, pois é claustrofóbico e escuro.
       Tem vestido e tem tiara, mas as madeixas são de outra cor, são mais longas e enroladas, porém, com menos vida. Tem sapato de boneca que é preto, mas com salto. Não há mais desculpas para usá-lo e assim acaba por ser melhor.
       Tem os sonhos e os pesadelos, mas o lugar ainda é o mesmo. O que assusta é o espelho que insiste em provar que há outra garota ali. Não tem lagarta conselheira e nem borboleta que incita. Os cogumelos são de comer, mas o tamanho é sempre o mesmo depois disso.
       Não tem gêmeos, nem chapeleiro e muito menos uma lebre. O que tem são felinos espalhados que apenas sabem miar. Tem cachorro que late e irrita, mas é amável pra variar. Não tem irmã, mas tem irmão que nunca viu. O resto da família é melhor sequer lembrar.
       Tem o choro e alguma alegria, tem um mar, mas não é de lágrimas. Tem saída sem saída onde sequer dá pra entrar. Tem queda livre que não faz cair. Não há rainhas e os reis não são tão bons. Não tem rosa pra pintar de carmim porque as que tem são pintadas de azul.

Nenhum comentário:

Postar um comentário